sexta-feira, 3 de março de 2017

ANTES QUE SE APAGUE COMPLETAMENTE: MEMóriA E PATriMôNiO dA rEvOLUçãO dE 1817 NA PArAíbA EliEtE dE QuEiroz Gurjão Profa MSc. Universidade Estadual da Paraíba elieteqgurjao@hotmail.com resumo Trata-se de projeto de extensão cujos objetivos são: salvar o que resta do patrimônio e da memória da Revolução de 1817 na Paraíba. Restaurar placas referentes à Revolução e realizar um trabalho de Educação Patrimonial, tentando sensibilizar parte da população local sobre a importância e significado desse patrimônio, reforçando seu sentimento de pertença e auto-estima. A participação da Paraíba nesta é totalmente obscurecida, apesar de ter sido a 2a. província que proclamou a república, instituiu um governo provisório e teve mais de uma centena de líderes presos, entre eles cinco enforcados, esquartejados e que tiveram cabeça e mãos expostas em vias públicas. Daí gerou-se uma memória postiça que enaltece apenas a “Revolução Pernambucana” e deixou os paraibanos como meros figurantes e em completa ignorância sobre o fato. Palavras-chave: Revolução de 1817; Educação Patrimonial; História da Paraíba O Cenário da revolução Em 1817 a Europa atravessava o início da fase que Eric Hobsbaum denominou de “ondas revolucionárias” (1982: p. 127).Em meio às novas condições sociais e econômicas e a luta das monarquias européias para manter a velha ordem, os ideais da Revolução Francesa ecoavam por toda parte. Além disto, a independência das colônias inglêsas da América repercutia por toda o continente americano, onde colônias espanholas proclamavam-se independentes. O ideal republicano e os princípios liberais eram trazidos e divulgados no Brasil, apesar da proibição das obras de seus defensores. Brasileiros que se formavam na Europa , no retorno, difundiam as novas ideias. Desde 1808, toda a Corte de Portugal instalou-se no Brasil. O Rio de Janeiro foi transformado em sede do Estado português, e como tal,teve que ser aparelhado de todo o necessário às exigências de uma corte acostumada ao conforto. Durante suaestadia no Brasil, D. João VI empreendeu a invasão da Guiana francesa e da Banda Oriental, que acarretaram grandes despesas. Para cobrir os gastos da Corte e das campanhas militares, as capitanias eram sobretaxadas, criando-se, assim, motivo de insatisfação. As capitanias do Nordeste, cuja economia agro-exportadora foi hegemônica durante os séculos iniciais da colonização, representando o sustentáculo da Colônia e maior fonte de rendas para a Metrópole, a partir do século XVIII foram atingidas por crises resultantes da vulnerabilidade da estrutura econômica que lhe foi imposta: dependência às oscilações do mercado externo e à política monopolista da Coroa. A economia açucareira foi atingida inicialmente, a partir da expulsão dos holandeses 306 e da concorrência do açúcar das Antilhas. O algodão, segundo produto na pauta das exportações, planta nativa do Nordeste, apesar de sua grande potencialidade e facilidade de produção, não foi devidamente estimulado. Considerado da melhor qualidade, no entanto, ficou à mercê das oscilações da demanda externa.O gado, afastado para o interior, em face do monopólio da cana nas terras do litoral e zona da mata, foi conduzido para os sertões, propiciando o estabelecimento das fazendas a partir do século XVII. Esta atividade, embora separada da área canavieira, permaneceu dependente do mercado consumidor do litoral e zona da mata. Somente no século XIX, com o desenvolvimento da lavoura algodoeira associada à pecuária, latifúndios do sertão entram no circuito do comércio exterior. Quanto à economia de subsistência, desde o início da colonização sobrevivendo atrelada a agro- exportação, assim continuou, produzindo alimentos nas terras consideradas impróprias para a grande lavoura de exportação. No início do século XIX o açúcar e o algodão foram novamente atingidos por grande retração. Segundo Carlos Guilherme Mota (1972) tratou-se de uma grande recessão, cujos anos-base foram 1812/1815, quando houve queda dos preços no mercado externo, bem como redução da produção, especialmente do algodão. Esta redução, em parte, pode ser resultante das grandes secas que atingiram o Nordeste desde os fins do século XVIII e em 1816. Além destes fatores, o citado autor acrescenta outro fator interno: Pernambuco e Paraíba, maiores centros exportadores, a partir dos anos 1812 e 1820 enfrentam a concorrência do Maranhão, cuja produção estava em constante crescimento. É por demais sabido o papel representado pela elite agrária nordestina que, desde os primórdios da colonização, exercia o poder local de forma incontestável. O monopólio da terra e a escravidão, associados às prerrogativas de poder que a Coroa portuguesa lhes delegou favoreceram seu mandonismo. Como senhores das Câmaras ou chefes de milícias e ordenanças detinham o poder nas municipalidades. Por conseguinte, constituía a classe dominante em uma sociedade escravocrata, patriarcal e estratificada. A Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba, implantada pelo marquês de Pombal, durante o período de 1759 a 1780 exerceu o monopólio do comércio e impôs juros e taxas abusivas, acarretando endividamento e falências. Segundo Celso Mariz (1939) foi apontada pelo governo da Paraíba como responsável pela ruína de engenhos e crise financeira da Capitania. Parte da elite agro-exportadora destas Capitanias, através das Câmaras de Olinda, Recife e Paraíba revoltada, solicitou ao rei de Portugal a extinção da Companhia. Declarada extinta em 1780, todavia, sua junta liquidatória continuou atuando até 1821. Às vésperas da revolução, portanto havia um grave conflito entre a elite agrária e mercadores “monopolistas”. Estes dominavam o comércio de importação/exportação, vendendo suas mercadorias, inclusive escravos, a preços exorbitantes e comprando açúcar, algodão e demais produtos da terra pelo menor preço. Esta troca desfavorável acarretou o endividamento de parte da elite local que, para saldar suas dívidas, tinha que recorrer a empréstimos que eram fornecidos também por “monopolistas”, cobrando juros extorsivos. Tal situação acarretou o encarecimento do custo de vida, atingindo, portanto, toda a população e prejudicando especialmente as camadas populares. Daí porque as manifestações de lusofobia da elite eram frequentes também entre a população como um todo. (cf. MOTA: 1972, p. 21 a 23). Neste contexto a Paraíba era submetida à dupla subordinação: à Coroa portuguesa e à Pernambuco. Mediante a deficiência de seu porto, todo seu comercio externo era realizado através de Recife, que já atuava como polo regional, convergindo para seu porto e centralizando a produção das províncias vizinhas: CE, RN, PB, AL e SE. A essa dependência da economia paraibana à Pernambuco, pode-se acrescentar a dependência política, uma vez que ela esteve anexada à Pernambuco durante 44 anos (1755/1799). Após quase meio século anexada à Pernambuco, a Paraíba encontrava-se administrativamente desorganida e com sua economia arruinada. Tal situação teve como 307 agravante a série de estiagens ocorridas em 1777, 1792 e 1816 que também contribuiu para o encarecimento dos produtos de primeira necessidade. A Paraíba na revolução As articulações e mobilizações que conduziram à Revolução ocorreram bem antes de 1817. Em 1799 o paraibano Arruda Câmara fundou o Areópago de Itambé, segundo Mário Melo (1912: p.12) primeira loja maçônica do Brasil. Situada na fronteira entre Paraíba e Pernambuco era frenquentada por maçons das duas capitanias, partidários das idéias republicanas e liberais. Em 1800 foi implantado o Seminário de Olinda, outro centro de expansão do liberalismo europeu e dos Estados Unidos. O Areópago de Itambé foi denunciado e fechado, porém em 1801 duas lojas maçonicas funcionavam clandestinamente em Recife: academias do Cabo e Paraíso. Por conseguinte, a ideologia de 1817 foi propagada pela maçonaria e clero e foram maçons e padres os principais articuladores e líderes do movimento, participando ativamente nas lutas. A animosidade entre brasileiros e portuguêses era pontuada por episódios conflituosos frequentes no cotidiano, sobretudo em relação aos “monopolistas”. A revolução estava sendo preparada, quando um motim militar em Recife resultou na prisão de oficiais brasileiros e no assassinato de um brigadeiro português pelo capitão José de Barros Lima. A tropa aliou-se aos rebeldes, iniciando assim, o movimento revolucionário em Pernambuco, seguindo-se a tomada do poder e proclamação dogoverno republicano em 06 de março. Na Paraíba a Revolução foi iniciada nas cidades de Itabaiana e Pilar, cujas tropas marcharam para a capital. “ [...] por todos os logares por onde passavam encontaram o povo armado com os principais proprietarios em frente, que de boa vontade o seguiam”( TAVARES: 1917, p. CXXVIII ). Em 16 de março alguns chefes militares proclamaram a República e elegeram a Junta Governativa da Paraíba, constituída de lideranças revolucionárias. Logo que assumiu o governo a junta decretou a abolição das Câmaras, ouvidorias e outras instâncias políticas da velha ordem colonial e monárquica. Da Paraíba partiram contingentes armados visando expandir a Revolução para o Rio Grande do Norte e Ceará. De Pernambuco foram enviadas expedições para as capitanias ao sul. Porém, além de Pernambuco, somente na Paraíba o movimento revolucionário conseguiu tomar o poder e implantar um governo republicano, embora por apenas um mês e vinte dias. Correspondência diplomática demonstra que a Revolução de 1817 foi motivo de preocupação na Europa, em face do contexto de movimentos emancipatórios da América espanhola e, sobretudo, da independência do Haiti. O TIMES dedicou-lhe mais espaço do que à proclamação da Independência em 1822. Nos Estados Unidos foi anunciada com entusiasmo. Representando a nova republica, foi enviado aos Estados Unidos um dos seus líderes “O Cabugá”, realizando a 1a.missão diplomática do Brasil.O jornal Times de Londres dedicou um grande lugar nas suas matérias para falar dos nossos revolucionários nordestinos que lutavam pela independência que tanto desejavam. E a primeira notícia que o jornal publicou tinha como manchete em grande destaque: Insurreição Geral no Brasil!Pode- se afirmar que o Times foi o maior responsável pelo reconhecimento da revolução de 1817 pelo mundo. O jornal chegou a publicar diariamente notícias sobre a mais nova revolução no Brasil, inclusive 21 editoriais sobre tal fato. As investidas das tropas imperiais, sobretudo pela via marítima, conseguem enfraquecer as tropas revolucionárias. Recife foi ocupado e na Paraíba, perante a superioridade das forças realistas,os rebeldes se renderam mediante promessa de anistia. Todavia, logo se fez violenta repressão.Centenas de prisioneiros foram encarcerados 308 na Bahia e aqueles considerados principais líderes foram enforcados e esquartejados em Recife. Entre estes, cinco paraibanos, cujas cabeças e mãos foram expostas em vias públicas da Paraíba. A Revolução de 1817, apesar de toda repressão, repercutiu através de duas rebeliões: em 1824 e 1848, ambas fundamentadas nos mesmos princípios, ocorridas na mesma região e tiveram como alguns líderes, sobreviventes de 1817. A importância desse movimento é bem avaliada por Carlos Guilherme Mota que a considera como “o 1o. movimento significativo de descolonização acelerada e radical do mundo luso-brasileiro” e que apesar de fracassar não houve retorno pacífico ao statu quo ante (1972: p. 2). O Projeto A motivação que impulsionou o projeto foi o inconformismo de sua coordenadora, professora de História, com o enfoque exclusivo de Pernambuco na historiografia sobre a Revolução de 1817. Todas as publicações sobre história do Brasil, são praticamente unânimes em apresentar esse fato como “Revolução Pernambucana” equando se referem à participação da Paraíba colocam apenas como um prolongamento do movimento de Pernambuco, sem nenhuma consequência. A obra mais referenciada sobre este fato foi escrita pelo pernambucano Francisco Muniz Tavares. Na condição de participante, ele descreve detalhadamente todos os momentos dessa rebelião, que denominou “Revolução de Pernambuco em 1817”. Nesta obra, que até hoje é a maior fonte para o estudo deste acontecimento, o autor reiteradamente, enaltece Pernambuco e pernambucanos. Para ele o mérito da revolução cabe aos pernambucanos. Quando fala sobre a participação de paraibanos atribui à educação que tiveram em Pernambuco. Sobre o inicio da revolução na Paraíba, comentou: “ [...] a povoação de Itabayanna teve a primazia, uma circunstancia particular ocasionou esta honra: era ahi, e na sua vizinhança, que habitava a mór parte dos jovens educados em Pernambuco, [...] “ (TAVARES: 1917, p. CXXVII). Excetuando-se algumas obras escritas por paraibanos, os historiadores em geral reproduzem a concepção exclusivista de Pernambuco. Como exceção, pode-se indicar o trabalho de Carlos Guilherme Mota, cujo título “Nordeste 1817”já indica sua abrangência, não se restringindo ao movimento em Pernambuco. Realizou extensa pesquisa documental, objetivando analisar a mentalidade das lideranças nordestinas naquele contexto, sem enaltecer pernambucanos. A concepção da superioridade de Pernambuco não se limita à historiografia de 1817, perpassa por toda história e deita raízes nos primórdios da colonização. Foi de lá que partiu a ideia de criação da capitania real da Paraíba, transformando a “indomável” capitania de Itamaracá em território “dócil” à conquista, após vencerem a resistência dos potiguaras (nativos que ocupavam o litoral, desde Itamaracá até o Maranhão) com a indispensável ajuda dos tabajaras (indígenas recém chegados). Na condição de polo açucareiro e controladores do comércio de exportação dos produtos da região, através das condições favoráveis de seu porto, Pernambuco manteve a hegemonia no norte e nordeste. A Paraíba, também pela proximidade geográfica, foi a capitania mais vinculada a Pernambuco, chegando, no século XVIII, a ser anexada oficialmente durante quase meio século. Conforme já comentado, mesmo após emancipada continuou influenciada e economicamente absorvida pelo comércio de Pernambuco.Por conseguinte, a mentalidade do paraibano foi construída mediante tais condições adversas que não favoreceram sua auto-estima. Durante o governo provisório, instalado na Paraíba em 1817, seus líderes demonstraram preocupação referente à dependência da economia paraibana, incluindo no projeto de governo medidas para fortalecer 309 seu comércio. No decorrer da história da Paraíba ocorreram outras tentativas pontuais neste sentido. Porém, nunca conseguiram vencer as forças oligárquicas cujos interesses estão atrelados aos setores políticos e econômicos predominantes em Pernambuco. É evidente que a memória de 1817 não foi cultivada na Paraíba, diferentemente da de Pernambuco que sempre foi enaltecida através dos livros didáticos e todos os meios de comunicação, os paraibanos nunca ouviram falar em tal revolução. Revolução na Paraíba? Somente a de 1930! Esta sim foi tão importante que resultou até na mudança do nome da capital! Todavia, alguns guardadores da memória de 1817 na Paraíba: o Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba (IHGB) e a Fundação Cultural do Estado, por ocasião do centenário da revolução, fizeram uma homenagem através de placas de mármore, colocadas nos lugares da capital onde foram expostas cabeças e mãos de seus líderes e no local onde ocorreu a rendição. O poder público, em 1917, deu a denominação de “Praça 1817” a um canteiro situado no meio de uma rua do centro da cidade que hoje quase ninguém sabe por que este nome, conforme evidenciado durante as entrevistas realizadas pela equipe do projeto. As placas foram colocadas há quase um século e, até hoje, são conhecidas e apreciadas apenas por raríssimas pessoas, conforme também é constatado através da referida pesquisa, cujos dados apesar de ainda inconclusos, já permitem afirmar. Mediante a marcha inexorável do tempo, a ação destrutiva das intempéries e a absoluta falta de manutenção, assim como a memória de 1817, as placas estão se apagando. Daí porque o título do projeto: “Antes que se apague completamente: memória e patrimônio da Revolução de 1817 na Paraíba”. Mediante este lamentável estado de coisas, o projeto tem como objetivos: recuperar a memória e o patrimônio histórico relativo à Revolução de 1817 na Paraíba, alguns “lugares de memória” que sobreviveram, por meio de duas ações: restaurar as placas e executar um trabalho de Educação Patrimonial. A restauração das placas é imprescindível e tem que ser feita urgentemente,antes que se apaguem completamente. A etapa inicial do projeto foi realizada em 2011.2. Consistiu na seleção e capacitação de 12 alunos-bolsistas. Foi ministrado pela coordenadora um curso sobre a fundamentação teórica e oficinas de Educação Patrimonial. Em seguida, foi realizado um trabalho de campo para reconhecimento e registro da área de atuação. No semestre passado (2012.1) foi realizado o mapeamento do entorno das placas e da Praça 1817 e realizadas entrevistas junto a uma amostragem desse contingente, perfazendo o total de 360 entrevistados. No momento, estão sendo apurados, catalogados e interpretados os primeiros dados e providenciados os materiais a serem utilizados durante a realização da 2a. Estação Patrimonial das três programadas para este semestre. Nestas, a equipe do projeto realiza plantões em tendas montadas em praças mais frequentadas da cidade e, durante 2 dias seguidos, interagem com os transeuntes com base nos objetivos do projeto. Nestes dias são distribuídos folders e panfletos informativos sobre o patrimônio, memória e identidade e apresentados banners referentes à questões pertinentes a essas temáticas e uma exposição de fotos antigas da cidade.Este trabalho tem sido muito gratificante, possibilitando interação com muitas pessoas. Durante a 1a. Estação Patrimonial a equipe realizou explanações para 123 pessoas, aproximadamente 300 pessoas apreciaram banners e fotos expostas e foram distribuídos 900 folders e igual número de panfletos. Até o final do projeto (maio/2013) serão executadas ações educativas e de divulgação, acompanhando a recuperação das placas. Durante o último semestre o trabalho será realizado em escolas públicas de nível médio, através de palestras, lançamento de um livro paradidático, minicursos e oficinas sobre Educação Patrimonial para professores. Com a execução desse projeto, espera-se que a relação entre o patrimônio de 1817 e parte da população da cidade mude. A partir da “descoberta deste patrimônio” é evidente que o elo entre parte da comunidade local e ele seja reforçado. Por conseguinte, espera-se que esse conhecimento seja reproduzido e contribua para reforçar a autoestima de parte da população paraibana. 312 rEFErÊNCiAS ABREU, Regina e CHAGAS, Mário. Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A , 2003, 320 p. AGUIAR, Wellington Hermes Vasconcelos de. Cidade de João Pessoa: a memória do tempo. 2 ed., João Pessoa: Grafset, 1993. ALBANO, Celina; MURTA, Stela Maris (org.). Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002. 288 p. ALMEIDA, Horácio de. História da Paraíba. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1978. BERGSON, Henri. Matéria e Memória. São Paulo: Martins Fontes, 1990. BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade- Lembranças de Velhos. 4. ed. São Paulo: Cia. Das Letras, 1995. ____. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. 2 ed., São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Será que os paraibanos conhecem a Revolução de 1817?

      No decorrer do projeto "ANTES QUE SE APAGUE COMPLETAMENTE: memória e patrimônio da Revolução de 1817 na Paraíba", foram realizadas 360 entrevistas com pessoas que trabalham ou passam diáriamente pelos locais de memória da Revolução de 1817. Um deles foi a Praça 1817, localizada no centro da capital, escolhida por ter esse nome devido à esta Revolução.
     Durante as entrevistas foram realizadas perguntas como:
  • Já teve curiosidade em saber o significado da denominação "Praça 1817"?
  • Sabe que ocorreu uma Revolução em 1817 na Paraíba?
  • Conhece algum monumento/placa referente à 1817?
  • Acha importante divulgar 1817?
Além disso, também foi perguntado aos entrevistados o que eles acham sobre o nosso patrimônio histórico e a identidade cultural da Paraíba.
  • O patrimônio histórico-cultural da cidade é bem preservado?
  • É importante fortalecer a identidade cultural da Paraíba?
Após as entrevistas foram obtidos os seguintes resultados:

62% afirmou não ter curiosidade a respeito do significado do nome "Praça 1817";

73% não sabia absolutamente nada sobre a Revolução de 1817;

Apenas 9% conhece algum monumento dedicado à Revolução de 1817;

Contudo, os dados também mostram o interesse em conhecer esse marco histórico na Paraíba, já que 90% afirmou ser necessário divulgar a Revolução;

Quanto ao estado do nosso patrimônio histórico-cultural, 85% afirmou que ele não está em bom estado de preservação;

Finalmente, quanto à identidade paraibana, 90% dos entrevistados demonstraram a necessidade de fortalecê-la.



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Restauração das Placas do centenário da Revolução de 1817

    O projeto "ANTES QUE SE APAGUE COMPLETAMENTE: memória e patrimônio da Revolução de 1817 na Paraíba", conta, em seu plano de trabalho, com a restauração de 04 (quatro) placas comemorativas do 1º Centenário da Revolução de 1817. Localizadas no Centro Histórico, estas placas estavam  esquecidas e descuidadas (como pode-se ver nas fotos abaixo). 
     Dessa forma, os responsáveis pelo projeto contactaram a restauradora Maria Piedade Farias, e sua equipe, afim de restaurar estas placas e trazer de volta à população a importância dessa Revolução.  
     Estas placas representam os locais onde foram expostas as cabeças e mãos de 3 líderes da Revolução e o onde eles se renderam.

Placa A: Local onde ficaram expostas a cabeça e mão de Amaro Gomes Coutinho.

Placa B: Local onde ficaram expostas a cabeça e mão de Francisco José da Silveira.

Placa C: Local onde os revolucionários se renderam à Coroa.

Placa D: Local onde foram expostas a cabeça e mãos de José Peregrino Xavier de Carvalho.

     Restauradas, estas placas podem oferecer à população uma maior compreensão da importância dessa Revolução. Para quem interessar fizemos um mapa com a localização das placas no Centro Histórico de João Pessoa.

Localização das placas conforme legenda das fotos acima.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Educação Patrimonial


                                                       Educação Patrimonial: conceito

            Geralmente a pouca valorização do Patrimônio Cultural se dá pelo desconhecimento que boa parte da população possui acerca do assunto, visto que não é tratado com tanta importância nas escolas. Logo, se faz necessário trabalhar e pesquisar o patrimônio cultural nas escolas e universidades, fortalecendo as relações das pessoas com suas heranças culturais e estabelecendo um melhor relacionamento destas com seus bens. Trata-se de fazer com que elas compreendam sua responsabilidade pela valorização e preservação do patrimônio, fortalecendo assim sua identidade cultural. A esse processo de educação patrimonial, Paulo Freire denomina de “alfabetização cultural”. Um processo consistente, permanente, e transdisciplinar. Educação Patrimonial consiste, portanto, na construção e compartilhamento de novos conhecimentos a cerca do patrimônio cultural, contribuindo para transformar a relação entre a comunidade e seu patrimônio.

                                                      Educação Patrimonial: objetivos


            No que se refere aos seus objetivos, a educação patrimonial pretende sensibilizar a população local sobre a importância de valorizar e preservar sua identidade, ou seja, o seu patrimônio cultural, desde que se entenda como preservação a garantia do direito à memória individual e coletiva, exercendo assim a cidadania. É finalidade também, permitir o conhecimento e o reconhecimento dos fatores importantes para os diversos grupos que formam uma sociedade, contribuindo assim na preservação cultural, sobre todos os bens (material/imaterial) que são dotados de informações referentes à identidade. O conhecimento crítico é de fundamental importância para a consciência sobre o “patrimônio” individual e coletivo, e é essencialmente válido para o fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania, a nossa “marca”, o que nos diferencia dos demais grupos. Essa ideia de diversidade cultural colabora para o crescimento da tolerância, respeito e valorização das diferentes culturas existentes no mundo.
            A partir da década de 1990 há um maior reconhecimento do Patrimônio Cultural e natural como ferramenta valiosa para salvaguardar a independência, soberania e as identidades culturais dos grupos latino-americanos, porém o maior desafio, de fato, é o despertar da consciência e a afeição a esses bens.
            Vale lembrar que o conceito de patrimônio cultural abarca desde o meio ambiente até as inúmeras formas de expressão cultural intangíveis. O ensino e a aprendizagem nesse âmbito, vê a população como agente histórico e produtor cultural e à medida que cada cidadão aumenta seu sentimento de pertencimento, aumenta também a sua autoestima e sua identidade. No Brasil, o IPHAN (Instituto Histórico e Artístico Nacional desempenha um papel muito importante, tanto no que se refere à preservação do patrimônio cultural, como na educação, atuando com atividades extracurriculares e interdisciplinares que valorizam e reconhecem as várias culturas locais, regionais e nacionais.


Fonte: CUSTÓDIO, Luís Antônio Bolcato. Disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2003/ep/index.htm>  Acesso em: 24/11/2008

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

1817; Início e Disseminação do Sentimento de Liberdade.


            Para podermos compreender a Revolução de 1817, temos de entender como se dava o cenário internacional, e também o cenário interno, principalmente o nordestino. Naquela época, a colônia encontrava-se em um delicado momento econômico, de dependência à Portugal que, neste contexto, estava dependente da Inglaterra, devido a Revolução Industrial e os tratados de 1810. Tratando-se apenas do Nordeste, esse passava por dificuldade nas exportações. Os principais produtos (algodão e açúcar) que eram exportados tiveram baixas significativas, o que acarretou em menor renda para a região, que já se encontrava periférica em relação ao sul e o sudeste, principalmente o Rio de Janeiro, onde se encontrava a Família Real. Além das baixas exportações, ainda havia outro problema, que era o de que a colônia estava repleta de produtos ingleses, desvalorizando ainda mais os produtos internos.
Outro ponto importante a ser comentado sobre o sentimento de liberdade decorre do fato da independência de outras colônias, essas na América Espanhola. Inspiradas nas ideias iluministas, e devido as invasões das tropas napoleônicas na Espanha, a elite que vivia nas colônias hispânicas se mobiliza e, nesse momento, há a independência das colônias espanholas. Há também outro levante, esse em São Domingos (Haiti), foi liderado por negros escravos que conseguiram a independência haitiana, o que trouxe receio para a colônia portuguesa, pois temiam que os colonizados tomassem o exemplo do Haiti.
Diante de todos esse eventos e com o descontentamento com a coroa portuguesa, é em 6 de março de 1817 que explode a Revolução em Pernambuco, onde há a criação de um governo provisório, se alastrando em pouco tempo para outras províncias; Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O movimento que eclodiu em março trouxe insegurança para a Monarquia, poderia servir (e serviu) de exemplo para outros movimentos de cunho separatista.
O movimento teve repercussão internacional, houve publicações sobre a revolução em diversos jornais da Inglaterra, Estados Unidos, França, Portugal e Rússia. É tanto que no Times, diversas edições puseram notícias sobre a Revolução, desde o seu reconhecimento como revolução, até o seu fim.



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Sentido de Patrimônio Nacional no Século XX


A primeira lei patrimonial visando à proteção do patrimônio nacional foi o Antiquities Act, em 1906 – mesmo ano da lei francesa –, restringindo-se a proteger todos os bens culturais de interesse da nação. Em 1935, o Historic Sities Act viria a complementar esta lei.
No período que vai de 1914 a 1945, - quando duas guerras mundiais eclodem sob o impulso dos nacionalismos - a ênfase no patrimônio nacional atinge o seu ápice. Durante esse conturbado período, os italianos usaram vestígios dos seus antepassados romanos para construírem uma identidade calcada nesse patrimônio, restaurado, glorificado e exaltado. Não foi à toa que o nacionalismo italiano usava símbolos materiais do poder romano, como o feixe, do qual deriva o próprio nome do movimento: o facismo. A Alemanha nazista também seguiu os mesmos passos, utilizando vestígios dos germanos para justificar reivindicações territoriais e invasões militares. Nesse sentido, mesmo em países democráticos, os vestígios de povos antepassados eram tomados como parte essencial da construção de um patrimônio nacional fortalecido.
O fim do conflito armado e a derrota dos nacionalismos facistas na Alemanha, Itália e Japão colocariam em xeque as interpretações nacionalistas e racistas do passado. O nacionalismo, associado ao imperialismo, seria superado com o fim da Segunda Guerra Mundial, juntamente com a criação da ONU e da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), ambas em 1945.
Nos países capitalistas desenvolvidos, o pós-guerra foi caracterizado pelo crescente desenvolvimento de movimentos sociais, em prol dos direitos civis, da emancipação feminina, do reconhecimento da diversidade em vários aspectos. Esses movimentos demonstraram a existência de diversos grupos e interesses sociais, e como essa variedade poderia gerar conflitos sociais no interior dos países. Assim, a ideia de unidade nacional através de uma só língua, cultura, origem e território, era minada no cotidiano das lutas sociais. Os movimentos em defesa do meio ambiente também foram importantes para a ampliação da noção de patrimônio, para que incluísse não apenas a cultura, mas também a natureza. Por fim, na década de 1950, a legislação de proteção de patrimônio amplia-se para o meio ambiente e para os grupos sociais e locais, antes preteridos em benefício da nacionalidade.
Portanto, essa multiplicação patrimonial ocorreu em conjunto com a crescente participação dos próprios cidadãos na gestão dos bens patrimoniais, culturais e ambientais, que deixaram de ser apenas preocupação da administração pública nacional.

Fonte:
FUNARI, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio histórico e cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.